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Foto do escritorCaio Abi-Ramia

Um breve ensaio sobre cadeiras

Atualizado: 13 de out. de 2021

Nos cursos e workshops que ministramos aqui na Semente temos um grande apelo dos alunos para construção de cadeiras e assentos de um modo geral, sejam poltronas, bancos, banquetas, etc. Entendemos também que ao longo da história as cadeiras se tornaram objetos icônicos dos designers e arquitetos que voltam seu pensamento para projeto de mobiliário. Mas porque toda essa obsessão?

Ao longo da história a cadeira teve um papel simbólico muito importante nas sociedades, podemos ver, por exemplo, seu papel de destaque nas principais monarquias, onde em muitas ocasiões todos ficavam de pé e a família real sentada em seus luxuosos tronos. O principal líder da Igreja Católica, o papa, também possuía esse adereço simbólico e ficava sempre sentado em papel de destaque, lembrando que na Idade Média as igrejas não possuíam assentos, bancos, nada para os fiéis, apenas os detentores da palavra eram quem se sentavam.


líder da igreja católica, o papa

A cadeira nas sociedades antigas tinham um papel de status social, ou seja, muitas vezes seu valor simbólico era muito mais importante do que de fato sua função prática, a de servir de assento. Podemos ver isso pelos modelos de cadeiras antigas que possuíam adereços, esculturas, detalhes dourados, estofamento com tecidos de alta padrão, etc. enquanto os menos abastados normalmente se sentavam em bancos ou cadeiras mais simples. Não eram todos que tinham acesso à cadeiras e isso podemos notar desde o Antigo Egito, onde os faraós já possuíam mobília e cadeiras e o restante da população vivia em situação precária.



Ou seja, podemos ver que a cadeira pode nos relembrar uma época em que foi fabricada e como era a sociedade vigente no momento. Podemos ver isso nas cadeiras da época do monarca Luís XIV, que acabou virando um estilo de mobiliário com nome do próprio rei, ou o que se chama também de classicismo francês. Ele criou durante seu reinado o que foi chamado de Manufacture Royale des Meubles de la Couronne (Manufatura dos móveis da Coroa), essa fábrica fundada em 1667 aprovava o desenho e a execução de todos os móveis feitos para a corte francesa, permitindo que a França ganhasse um estilo próprio e não mais importasse influências italianas e flamengas. A disputa em torno de símbolos estéticos e de influências com outros países era muito importante para o Rei, vide a construção do Palácio de Versalhes.


Manufacture Royale des Meubles de la Couronne (Manufatura dos móveis da Coroa)

As cadeiras tem uma única função prática, o convite a se sentar, e todas elas também por possuírem essa mesma função tem dimensões parecidas devido à ergonomia, adaptação delas ao corpo do ser humano. Por isso é muito mais fácil de se comparar às épocas através das cadeiras do que qualquer outro mobiliário. Por ser um objeto que ao longo dos anos vai mudar de acordo com a tecnologia, a sociedade, a história, os materiais, mas terá sempre dimensões parecidas e uma mesma função.




Cadeira Thonet n14
Thonet n14

Avançando alguns séculos no tempo conseguimos comparar como avanços tecnológicos estavam mudando a vida no século XIX. A cadeira Thonet n14 é até hoje considerado um símbolo do design de produto, pois sua fabricação extremamente inovadora na época conseguiu fazer com que este produto vendesse

milhões de unidades, algo assombroso. Thonet viu que na época as cadeiras não estavam se alinhando aos processos de fabricação criados pela revolução industrial e portanto ainda eram feitas de forma artesanal, custando muito caro. A cadeira desenvolvida pelo alemão foi a primeira a utilizar o arqueamento da madeira com vapor d'água, um processo mais rápido que o que era desenvolvido até então, sem perder a elegância e conseguindo produzir muito mais peças. Suas cadeiras possuíam apenas seis peças e era desmontável, por isso ela conseguia ser transportada facilmente para todos os lugares do mundo.

Esse símbolo do design foi também a primeira cadeira a ser usada por cafés na Europa. Antes esses espaços não eram vistos como espaços de convivência social, espaços de conversa e troca, portanto na época em que a cadeira foi produzida isso estava mudando e os cafés estavam passando a serem frequentados por artistas e pessoas da de classe média e alta para socializarem. O preço mais em conta e a grande oferta no mercado possibilitaram os estabelecimentos oferecem assentos aos seus clientes.

Outro ícone do design que podemos citar é a revisão que teve Philippe Starck ao estilo francês. Sua peça se chama Louis Ghost pode-se entender o porque vendo a imagem abaixo.


Louis Ghost, Philippe Starck
Louis Ghost

O designer revisitou o classicismo francês com uma material transparente, o que deixa ambientes mais espaçosos e limpos quando mobiliados. Nessas cadeiras o uso de materiais plásticos como o Policarbonato utilizado por Starck, possibilita uma produção ainda mais rápida. Em um mundo globalizado e com grande apetite por novos produtos, cadeiras como essa são fabricadas com um único processo de produção, a injeção plástica, processo esse que só faz valer a pena financeiramente à empresa se forem feitas milhares, milhões de peças, devido ao seu alto investimento inicial em moldes. Uma vez feito isso as cadeiras são produzidas em questão de minutos.

Outro avanço que reflete nos dias de hoje são as tecnologia CNC (Comando Numérico Computadorizado), onde as máquinas produzem os móveis ou produtos em geral guiadas por um arquivo digital e não mais um molde físico, como no caso da Louis Ghost. Isso possibilita produção em pequenas tiragens sem que o preço inicial seja muito elevado. Para puxar a Sardinha pro nosso lado, aqui na Semente nós fizemos a Cadeira Malha, uma releitura da cadeira Plaka do Ricardo Blanko direcionada ao mundo da moda utilizando o corte em máquinas CNC.


Cadeira Malha, uma releitura da cadeira Plaka do Ricardo Blanko
Cadeira Malha

Acreditamos porém que o grande avanço do nosso tempo é a possibilidade de compartilhamento desses arquivos de fabricação e também de conhecimento. Hoje se tem acesso a muito material para produção de móveis e produtos em geral em qualquer lugar do mundo, podendo cada pessoa fazer seu próprio objeto. Assim não dependeremos de transporte de produtos em termos globais, de extração de matéria prima desnecessária evitando desperdício, os produtos seriam feitos sob demanda, não precisando as empresas terem enormes estoques. Isso tudo é uma possibilidade que nosso mundo globalizado traz.

Aqui listamos alguns exemplos de como avanços tecnológicos e mudanças na estrutura social refletem na confecção e forma das cadeiras. Se você quiser ver mais a Vitra, uma das maiores fabricantes do mundo, lançou recentemente um documentário sobre cadeiras que você pode assistir.



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